AL SOL (Português)



Nick Hornby foi por muito tempo o meu escritor favorito. Especialmente desde que li High Fidelity, em 1999.

Sempre senti uma forte conexão com a sua literatura. De alguma forma, me senti representado um pouco mais que com outros dos meus escritores favoritos, como J. L. Borges, Paul Auster ou Oscar Wilde.

Hornby tem um filho com autismo.

A minha esposa é psicóloga, e especializa-se no tratamento de crianças com autismo e transtorno geral do desenvolvimento.

Um dia, eu estava improvisando paisagens de som no sintetizador, e ela me falou que os meninos com os que trabalhava talvez gostassem desse tipo de música.

Os meninos da instituição onde minha mulher trabalhava tinham uma “hora de relax”, após o almoço. Porém, como as crianças eram hiperativas, não conseguiam descansar naquela “hora”.

Gravei então uma improvisação para eles, criando camadas de som com o Nord Lead 2x no phrase sampler, uma gravadora de loops que permite superpor diversos sons progressivamente.

Quando liguei os instrumentos para gravar esta música, imaginei-me deitado sobre a grama, olhando o céu numa manhã de outono, com o Sol esquentando a pele. Sem nenhuma outra conexão com o mundo que essa grama, esse céu, esse Sol.

As crianças adoraram.

Conectaram com a música, ouvindo cada som e desfrutando do momento musical.

E foi uma sensação incrível para mim que uma gravação que me nasceu naturalmente, em “estado selvagem” de improvisação e espontaneidade musical, conseguisse essa conexão.

Aí a gente fica surpreso com as coincidências.

E assim a gente começa a descrer das coincidências.

E começa a elaborar um sentido delas. A desenhar uma linha, uma história. A crer que há algo ali.

Imediatamente lembrei uma maravilhosa e inspiradora frase do Auster: “I’ll see it when I believe it”.

Esta peça foi o começo de tudo. Esta peça foi o início do projeto. Foi uma improvisação gravada num só take, usando sons criados com o Nord Lead 2x, gravados com o phrase sampler Boomerang III.



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